Publicado em: Quarta-feira, 14 de Janeiro de 2015
De volta à mesa do brasileiro o frango caipira agora representa uma forma alternativa de alimentação. Ele não consome rações com hormônios, ele pasta, corre solto no terreiro, toma banho de sol, se molha na chuva, dorme à noite e cresce no tempo certo, ao natural, diferente do frango industrializado ele pode levar até oito meses para ir à panela, enquanto o pintinho de granja consegue ter tamanho e peso de uma ave adulta entre 30 e 45 dias de vida. É uma conta impressionante.
Preocupado em manter uma alimentação mais natural, o consumidor brasileiro, volta ao tempo dos nossos avós e faz um resgate desse tipo de ave. O mercado está aquecido, pois existe uma busca por uma carne mais nutritiva, com sabor diferenciado e menos gordurosa.
Foto de: Divulgação/Avifran
Luciano Maia: "Distribuidores recebem
treinamento para venda de pintinhos em
todo o pais"
A Avifran, uma empresa especializada em venda de pintinhos de um dia, atua em todo o Brasil e tem crescido cerca de 15% ao ano. A espera é crescer na mesma proporção em 2015. “As pessoas estão mais preocupadas em consumir um produto mais orgânico. Tivemos primeiro uma grande busca da indústria por volume e velocidade de produção de frango e agora há uma conscientização e um retorno às origens, um movimento contrário, buscamos o que a gente chama de frango feliz, porque é uma galinha que pasta, cisca, dorme, enquanto o frango de granja industrial não dorme, ele come sem parar 20 horas por dia, é preso em gaiolas e estressado. Agora as pessoas querem pagar um pouco mais para ter acesso a esse tipo alternativo de carne”, afirma o diretor-executivo da Avifran, Luciano Maia.
A empresa, que detém neste segmento 60% do mercado brasileiro, conta atualmente com um leque de 100 distribuidores por todo o país e vende por ano mais de 36 milhões de pintinhos que são comercializados em empresas e casas especializadas no ramo agrícola, aquelas que são popularmente conhecidas como Casas de Ração. Na avaliação de Luciano Maia a maior busca por essa alimentação alternativa deve estar no nordeste brasileiro, eles são os que mais compram os pintinhos caipiras.
Quem adquire são pessoas interessadas na recria, ou seja, donos de sítios, chácaras, e fazendas que já estão de olho no aumento da demanda, em diversificar os negócios na propriedade rural, em melhorar a genética das galinhas caipiras por meio de cruzamento e aumentar o faturamento da propriedade. Algumas prefeituras que incentivam a agricultura familiar e a geração de renda também compram e fazem doações de pintinhos para assentamentos e pequenos produtores rurais.
Números de mercado
De acordo com informações do Sebrae, em 2012, o Brasil foi o terceiro país exportador de carne de frango do mundo, com produção de 12.645 toneladas, ficando atrás dos EUA e da China, tendo como principal destino o mercado interno (69,8%), demonstrando que o mercado externo mundial representa um promissor mercado para expansão das exportações (30,2%).
No mesmo ano, o consumo anual de carne de frango no Brasil alcançou cerca de 45 kg por habitante, inferior ao de diversos países, o que indica que ainda existe uma grande demanda no setor, principalmente para carne de frango caipira, um produto diferenciado e que ainda não há dados concretos referentes à produção e destino do produto.
Ovos de ouro
Foto de: Free Images
Ovos caipiras não têm padrão de cor e tamanho, mas
sabor caracterísitico e produção natural tem atraído consumidores
Ao quebrar em uma frigideira um ovo convencional e um orgânico rapidamente perceberá a diferença entre os dois. O primeiro tem uma gema com um tom mais para o amarelo, enquanto o outro mais para o avermelhado. A diferença ainda é maior no cheiro e no sabor.
Alimentos que passam por uma escala industrial, no final do processo, perdem características naturais se comparados com os produtos orgânicos, como por exemplo, cor sabor, textura.
Prova disso são as enormes quantidades de aditivos químicos para acentuar artificialmente todas características nos produtos que, em primeira instância, foram feitos para vender, não para alimentar. Quem nunca viu em quitandas aquelas mangas vistosas e enormes, mas que quase não têm gosto e aquelas melancias lindas e gigantes sem nenhuma doçura ou aquele tomate gigantesco que não se compara ao pequeno tomatinho feio, mas imensamente saboroso, lá da horta da vovó? Pois é, da mesma forma acontece com os ovos caipiras e orgânicos. Eles podem não ter padrões exatos de cor e tamanho, alguns são até verdes e pequenos, mas com certeza vão dar o toque especial às receitas e à saúde do consumidor.
Em um processo industrial as galinhas poedeiras viram máquinas e são consideradas como tal. Elas provavelmente nunca terão a oportunidade de ver a luz do sol, nem tampouco ciscar, fazer seus próprios ninhos ou ser mamães de seus pintinhos, pois algumas raças são até modificadas geneticamente para nunca chocarem. É uma produção incessante de ovos até o momento em que são descartadas como lixo, período em que a produção cai devido à idade.
Ao serem transformadas em máquinas, desprovidas de espaço e tempo para seus hábitos, instintos e necessidades, elas entram em um sistema de produção que aumenta a quantidade de ovos produzidos, em detrimento, claro, da qualidade e do bem-estar animal. A produção de ovos é só mais um exemplo de como a supervalorização da alta produtividade tem levado a humanidade a uma sensação de modernidade, que não se desenvolve sem estar acompanhada de diversos problemas sociais, ambientais, econômicos e de saúde.
Portanto, eis a principal diferença entre ovos convencionais e orgânicos: a forma como as galinhas são criadas para produzi-los.
Segundo informações da organização de proteção animal Humane Society International (HSI), o principal problema das gaiolas é “a severa restrição do movimento e a privação da oportunidade de exibir comportamentos naturais importantes”. Além disso, galinhas engaioladas sofrem com a perda de resistência óssea e fadiga de gaiola que é um distúrbio em que o sistema esquelético se enfraquece e pode levar a fraturas, paralisia e morte.
No Brasil, mais de 70 milhões de galinhas são confinadas em gaiolas. A produção em gaiolas convencionais foi proibida em toda a União Europeia em 2012 e em três estados americanos: Michigan, Ohio e Califórnia, leis já foram aprovadas para restringir o confinamento de poedeiras em gaiolas. A Índia agora também discute uma proibição nacional.
Já o ovo caipira dispensa maiores explicações, pois o processo de produção é semelhante ao do frango de corte caipira. A galinha vive livre e escolhe onde será o seu ninho. Algumas raças, inclusive têm até aptidão dupla, ou seja, é capaz de produzir carne e ovos e ainda complementar a renda do dono.
A paixão que virou negócio: Produtor inova e vende ovos de raças ornamentais pela internet
Foto de: Reprodução de Arquivo Pessoal
Mario segura a Old Game, de origem inglesa, é uma
espécie de Garnizé que não passa dos 15 cm de altura
e 700g de peso
O objetivo do produtor rural Mario Salviato não é abater, nem ter um sistema convencional de produção de ovos em larga escala. É provar que galinhas podem ser bichos de estimação, e com a beleza dos diferentes tamanhos e plumagens servirem para ornamentação de sítios, chácaras e fazendas. Dono de uma propriedade familiar na cidade de Porto Ferreira (SP), localizada a 220 Km da capital paulista, Mario fez de sua paixão por galinhas um dos negócios mais rentáveis de sua fazenda. Ele é criador de 123 raças de galinhas, algumas variedades são raras no Brasil e só podem ser encontradas na propriedade de Mario Salviato. Qualquer um que tenha interesse em possuir uma das raridades criadas por Mário só precisa acessar a internet, comprar ovos, receber via sedex e pôr para chocar em uma galinha ou chocadeira. Parece loucura, mas é pura inovação e capacidade de empreender.
Mas para entender melhor a história é preciso uma contextualização: Tudo começou há mais de 20 anos, Mario apaixonado por galinhas desde criança, começou a criar várias raças diferentes, mas com o desenvolvimento da internet, decidiu fazer uma loja virtual para vender ovos. O objetivo foi dividir a genética para todos aqueles que têm interesse em adquirir raças diferentes, e ainda descolar um rendimento extra para o sítio, mas a inovação encontra-se no momento em que todo o processo pode ser resolvido em poucos clicks.
No início é de causar estranheza. Como receber ovos via correios sem eles quebrarem? O segredo está na embalagem, pois eles são revestidos com plástico bolha e mergulhados em cascas de arroz dentro de uma caixa de isopor. Eles não se movem dentro da caixa. É uma compra totalmente segura e dificilmente quebram ou ficam trincados.
Atualmente o aviário de Mário Salviato tem mais de 2.000 galinhas. Ele é o maior criador do país no segmento de galinhas ornamentais, apesar de ter que se adequar a legislações e cumprir exigências iguais a de criadores de escala industrial. O que vem sendo uma grande barreira, devido a burocracia, impostos e falta de leis específicas para o segmento de galinhas ornamentais. Salviato vende pela internet uma média de 500 dúzias por mês.
Fonte da matéria: http://bit.ly/1FUWj6e.